Cientistas esperam ansiosos que colisor entre em ação

Caso não aconteça uma colisão completamente imprevista com um asteróide ou uma invasão repentina de alienígenas vindos de Alpha Centauri, é improvável que o mundo acabe nesta quarta-feira, mas ainda assim há muita gente esperando de respiração suspensa.

Por volta das 4h30min, horário de Brasília, os cientistas da Organização Européia de Pesquisa Nuclear (Cern) anunciam que tentarão enviar os primeiros feixes de prótons que percorrerão o anel de 27 km conhecido como o Large Hadron Collider (grande colisor de hádrons, ou LHC), localizado a uma profundidade de 100 metros nas cercanias de Genebra, na fronteira entre a França e a Suíça.

E uma geração de físicos, assistindo das salas de controle e de auditórios no locais, em transmissões via Web pelo site webcast.cern.ch ou em transmissão de TV da Eurovision, estarão contemplando seu destino profissional.

O Laboratório Nacional de Aceleradores Fermi, ou Fermilab, dos Estados Unidos, perto de Chicago, vai organizar uma "festa do pijama" que permitirá que membros de sua equipe e jornalistas assistam ao evento ao vivo de um centro remoto de controle.

O colisor, cuja construção demorou 14 anos e custou US$ 8 bilhões, é a mais dispendiosa experiência científica tentada até hoje.

Milhares de físicos, de dezenas de países, estiveram envolvidos na construção do colisor e de seus imensos detectores de partículas. O complexo foi projetado para acelerar prótons a uma energia de sete trilhões de elétron-volts, ou sete vezes a energia da máquina concorrente mais próxima, o Tevatron, do Fermilab, e promover colisões entre as partículas.

Nas últimas semanas, surgiu uma verdadeira tempestade de estudos e projeções quanto ao que pode e não pode ser descoberto pelo novo complexo, em trabalhos de físicos teóricos ansiosos por enunciar suas apostas antes que a bola virtual caia à roleta da física, ou que os dados da ciência comecem a girar.

O que está em jogo nessa aposta é um pacote de teorias conhecidas coletivamente como "Modelo Padrão", o qual explica toda a física de partículas até o momento mas não consegue explicar o que estava acontecendo nos primeiros instantes de existência do universo.

O novo colisor terminará um dia por propiciar temperaturas e energia equivalentes àquelas que existiram no trilionésimo de segundo que se seguiu ao Big Bang.

Existem muitas teorias sobre o que irá acontecer, uma das principais das quais envolve a obtenção de prova física sobre a existência de uma partícula conhecida como bóson de Higgs, cuja existência hipotética serve para explicar que outras partículas tenham massa; também está sendo prevista a obtenção de indícios quanto à identidade da misteriosa matéria escura que oferece os andaimes invisíveis sobre os quais as galáxias e o cosmos se dispõem.

Mas ninguém é capaz de saber ao certo que resultados serão obtidos, e isso é parte da diversão da empreitada, ainda que tenha levado a algumas alegações alarmistas de que o colisor poderia gerar um buraco negro ou algum outro fenômeno acidental capaz de pôr fim ao nosso planeta e até mesmo ao universo.

Essas alegações foram vigorosamente refutadas por uma série de estudos e relatórios de segurança, o mais recente dos quais foi publicado na semana passada pelo Journal of Physics G: Nuclear and Particle Physics, uma publicação que submete o material recebido a revisão técnica por outros cientistas.

Robert Aymar, o diretor geral do Cern, declarou em um comunicado à imprensa que "o LHC é seguro e qualquer sugestão de que ele possa representar risco é pura ficção".

Mesmo que os críticos do projeto estejam certos, o fim não está próximo. Por enquanto, os feixes de partículas apenas circularão, sem colidir, e os primeiros dias de operação, portanto, representarão aquilo que Tommaso Dorigo, da Universidade de Pádua, classificou em seu blog, o dorigo.wordpress.com, como um "evento para a mídia".

A intensidade dos feixes, ele escreveu "será mais ou menos como a de veículos em uma estrada de terra do Arizona, e nossos detectores serão como pobres almas dormindo na beira da estrada com o polegar estendido, caso algum carro se disponha a parar para oferecer carona".

A primeiras colisões, com nível de energia nada devastador da ordem de 450 bilhões de elétron-volts, devem acontecer dentro de um mês ou dois, para elevar a energia dos prótons a cinco trilhões de elétron-volts - o maior nível que a máquina deve atingir antes que suas operações sejam suspensas para a pausa de inverno - e promover colisões entre eles.

O mundo inteiro estará assistindo. Informações sobre como participar estão disponíveis em lhc-first-beam.web.cern.ch.
Fonte:http://noticias.terra.com.br
Tradução: Paulo Migliacci
The New York Times

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